Deus criou tudo o que existe: o céu, o mar, a terra. Por fim, criou o ser humano. Quando chegou a plenitude dos tempos, no novo Adão, recriou a humanidade, lavada no sangue que brotou no Altar da Cruz. A essa nova criação, Deus chamou de filhos e pela Ressurreição nos levou de volta ao céu. Nós somos essa geração e é assim que queremos viver: como a geração escolhida por Deus para ser sal e luz, santificar o mundo restaurado e plenificado na Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus.
Estamos nos aproximando da Semana das Semanas: a Santa Semana. Ela não pode ser apenas mais uma semana porque ela pode mudar nossa vida. Não precisamos ter pressa de vivê-la, pois podemos percorrer os caminhos de Cristo até a Cruz e Ressurreição. Para participarmos da Ressurreição, precisaremos participar da Cruz. Façamos companhia a Jesus, por amor e porque Ele carregou a Cruz com os nossos pecados (cf. 1Pe 2, 24). Ajudará a viver melhor a Semana Santa aquela antiga prática de meditar a Paixão de Jesus, costume tão antigo que já se vivia em Jerusalém quando os Apóstolos se reuniam “na primeira hora” para lembrar o que Jesus sofreu. Não é preciso ser um grande teólogo para meditar a Paixão do Senhor, pois a Cruz é como um livro que dita o que precisamos saber para aprender a amar.
Como viver esses dias santos? Reservar um momento do dia para a oração sempre será o primeiro passo. Nos coloquemos entre aqueles que presenciaram os momentos da Paixão. Entremos com o Senhor em Jerusalém e com nossas palmas saudemos nosso Rei e Messias. Veremos Ele expulsar os vendilhões do Templo, ensinar e discutir e assistiremos a conspiração final contra nosso Salvador. Sentemo-nos à mesa na Última Ceia, deixemos que o Senhor nos lave os pés e prestemos muita atenção quando instituir a Eucaristia e o Sacerdócio. Procuremos não dormir no Getsêmani, mas, vigilantes, façamos companhia à agonia que fez nosso amado Senhor suar sangue. Estejamos ao seu lado quando for preso e veremos os apóstolos fugirem e até mesmo o grande São Pedro dizer que não conhece Jesus, depois de ter jurado morrer por Ele – como já fizemos também nós. Não nos separemos da Virgem Maria e do Apóstolo amado pois seguirão firmes o caminho do Calvário. Ouviremos as mentiras contadas no julgamento armado para o Mestre, que levará bofetões e cusparadas por amor a nós. Vão doer nossos ouvidos, mas ouviremos – e gritaremos – “crucifica-o”.
As sagradas mãos que curaram e expulsaram demônios serão atadas e caminharemos pelas ruas com Jesus que já passou frio, sono e tem o rosto desfigurado pelas pancadas e escarros - é o homem das dores - até chegar ao poderoso homem que podia mudar tudo, mas mandou flagelar o Salvador e lavou as mãos do seu sangue preciosíssimo, libertando um assassino. A Cruz é pesada demais, e seremos chamados a ajudar o Senhor. Ele cairá, a pesada cruz lhe baterá nas costas, machucará ainda mais a cabeça já tão machucada pelos espinhos de sua coroa. Não temos como tirá-lo de lá, mas podemos secar-lhe o rosto. O Senhor cairá e se levantará para que não desistamos da nossa luta e da nossa cruz. Caminhando até o Calvário veremos as mulheres a chorar e o Senhor a consolá-las. E ouviremos um dos ladrões unir-se aos gritos de insultos dirigidos a Jesus, é a cruz da revolta, que não vê o sofrimento como salvífico. Já o outro ladrão compreende que a Cruz que vivida com Cristo leva ao Paraíso. Será impossível não ouvir o mortal som dos cravos atravessando os pés e as mãos de Jesus que grita e chora, mas que faz sair amor de suas feridas. Ó Árvore da Vida, Altar da nossa salvação, Cruz fiel, Árvore nobre! Que flor e frutos nos dais! Se nos mantivermos aos pés da Cruz, ao lado da Virgem Maria e do Discípulo Amado, poderemos contemplar os olhos de Cristo a nos amar e entregar a Sua Mãe, seu último consolo, para morrer sem absolutamente nada mais que o Amor. Podemos ajudar Nicodemos a descer o corpo do Senhor da Cruz e a colocá-lo no sepulcro novo.
Sabemos que não acaba aqui, pois em vão teria sido nossa fé. Jesus descerá à mansão dos Mortos e abrirá de novo as portas do céu. Se alguns voltaram à Emaús ou à pesca, o coração da Virgem Maria esperava, porque ela acreditava nas palavras do seu filho que anunciara que ao terceiro dia ressuscitaria. Na ausência temporária de Jesus foi ela que acolheu e cuidou da Igreja que nascia até que o novo dia surgisse e dissipasse as trevas para que a alegria voltasse aos corações e pudéssemos ser felizes de novo.
Essa Santa Semana pode ser especial e isso depende de cada um de nós.
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